• Angola Mais Próxima Da Região E Do Continente


    Angola acaba de passar ao Zimbabwe o martelo da presidência da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), no termo de 12 meses de um mandato creditado como muito rico em safra.

    A passagem de testemunho aconteceu, durante a 44.ª cimeira ordinária do bloco regional, decorrida, em 17 de Agosto de 2024, na capital zimbabweana, Harare.

    Por força disso, coube ao Presidente João Lourenço proferir o discurso principal do evento, com a tripla função de balanço, despedida e recomendações, diante dos seus pares africanos da região e individualidades "estrangeiras” convidadas.

    A título de balanço interno, João Lourenço pôs em evidência as evoluções e as vicissitudes que o seu mandato registou nos programas e projectos da organização.

    Entre outros aspectos, falou em progressos alcançados no domínio da circulação de pessoas, bens e serviços, notando que alguns Estados-membros instituíram isenções de visto entre si, enquanto outros aboliram completamente essa obrigação para todos os países da SADC.

    Para o chefe de Estado angolano, inscreve-se também no quadro desse esforço a operacionalização do Corredor do Lobito, como uma importante infra-estrutura local que vai conectar países encravados como a República Democrática do Congo (RDC) e a vizinha Zâmbia ao Oceano Atlântico.

    Falou igualmente em melhorias no sector do turismo, que teria recuperado o seu lugar como um dos mais importantes activos do Produto Interno Bruto (PIB) e do crescimento económico da região, depois de um abrandamento "bastante significativo” durante a Covid-19.

    Nas dificuldades encontradas, aludiu a um preocupante aumento da insegurança alimentar e sua incidência no agravamento das vulnerabilidades das pessoas, na região.

    Citou o legado de surtos de doenças e desastres naturais, que teriam levado os Estados-membros a criar mecanismos para reduzir, por exemplo, os casos de HIV/Sida, quanto a mortes e novas infecções.

    João Lourenço afirmou que esses resultados recomendam a persistência no trabalho de sensibilização dos jovens, para adoptarem comportamentos preventivos e seguros, visando evitar a propagação da doença nessa franja da população.

    Recordou, a este propósito, que, em Fevereiro deste ano, acolheu uma cimeira extraordinária sobre a situação da cólera, na região, que tomou medidas para conter a sua propagação e garantir a saúde e o bem-estar das populações.

    Ainda em matéria de saúde, realçou que foram obtidos "êxitos dignos de destaque” no combate à malária, cuja taxa de incidência "diminuiu significativamente”.

    Outrossim, disse, o seu mandato esteve confrontado com outras situações que obrigaram a reagir prontamente de forma colectiva, como é o caso do fenómeno El Niño, seguido da cimeira virtual de Maio passado, em Luanda, sobre os desastres naturais que provocaram perdas de vidas humanas e danos em infra-estruturas.

    Como mecanismo de resposta, anunciou a entrada em funcionamento do Centro de Operações Humanitárias e de Emergência da SADC, que terá a importante função de ajudar a coordenar a preparação, a resposta e a recuperação rápida dos riscos de desastres a nível regional.

    Benefícios locais

    Para alguns observadores atentos, porém, a avaliação da passagem de Angola à frente do bloco regional deve ir muito além da mera retrospectiva interna, demarcada pelos seus reflexos na vida da organização.

    Considera-se que ela deve abarcar também, e sobretudo, os seus efeitos locais ou externos, em termos daquilo que a presidência angolana na SADC trouxe de concreto para o país e a sua população.

    Algumas opiniões vão ao ponto de identificar aqui uma presença acentuada de externalidades quase inimagináveis, num passado recente, em que a percepção de Angola além-fronteiras deixava muito a desejar, ou era pouco recomendável.

    Diplomatas regionais ouvidos nos bastidores da cimeira de Harare convergem na constatação de que está em curso a projecção de uma nova imagem de Angola aos olhos do continente, em geral, e da região em partícular.

    Observa-se que a concretização do compromisso assumido por João Lourenço, no arranque do seu primeiro mandato de governação, para uma maior abertura ao mundo, ganhou uma forte visibilidade durante a presidência da SADC.

    "É muito fácil perceber que Angola hoje tem boas referências fora, sobretudo aqui na região, onde o país passou a estar mais presente, lado a lado com outros”, frisou um alto funcionário da SADC, em Harare.

    Para este mesmo diplomata, não foi inocente "a chuva” de elogios e reconhecimentos a Angola, durante a cimeira de Harare, pelo papel que o país tem desempenhado nas várias frentes de luta na região.

    Na sua óptica, também não tem sido inocente a avalanche de países da região e outros que procuram iniciar ou estreitar as suas relações com Angola, depois de anos de distanciamento mútuo ou incompreensões diplomáticas.

    Dito de outro modo, a nova postura de Angola começou a gerar frutos não só a nível das relações inter-estaduais e de cooperação política, mas também na perspectiva do cidadão comum, que passou a ser encarado de forma diferente.

    A confirmar-se, tudo leva a crer que o fim do mandato na presidência rotativa na SADC representa, antes, o começo de uma nova face de Angola, mais inclinada para uma maior aproximação e avessa à política de "cadeira vazia”.

    Fonte: Angop.