• Discurso do líder da União Africana no acto de premiação de cientistas em Tóquio


    O Presidente da União Africana, João Lourenço, discursou, esta sexta-feira, no acto de premiação do cientista maliano Abdoulaye Djimdé e da entidade suiça “Medicamentos para Doenças Negligenciadas”, que decorreu na cidade Tóquio, no Japão.

    Eis o discurso na integra:

    Suas Majestades Imperador e Imperatriz do Japão,

    Sua Excelência Senhor Shigeru Ishiba, Primeiro-Ministro do Japão,

    Excelências Chefes de Estado e de Governo Africanos,

    Minhas Senhoras, Meus Senhores,

    Agradeço a honra que me concedem, ao ter sido convidado, na qualidade de Presidente em Exercício da União Africana, para testemunhar este acto com o qual se homenageia o médico Hideyo Noguchi, cidadão japonês que se eternizou na memória dos povos de África, através da outorga destes prémios, nesta quinta edição ao cidadão da República do Mali, o Dr. Abdoulaye Djimdé, e a instituição suíça Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas, pelos trabalhos que realizaram e pelos contributos que prestaram no âmbito do aprofundamento dos conhecimentos científicos na área do combate à malária, no desenvolvimento de medicamentos e no tratamento de doenças negligenciadas em África, de que realço a doença do sono africana.

    Este prémio sabiamente instituído pelo Governo japonês é uma distinção que reverencia o legado de um cientista que dedicou a sua vida à batalha contra as doenças infeciosas em África e desbravou os caminhos da investigação bacteriológica, legando ao mundo uma obra vasta nesta matéria, que teria sido talvez mais ampla se não tivesse enfrentado o infortúnio de sucumbir às consequências graves da febre amarela que contraiu enquanto realizava trabalhos de investigação em África.

    Excelências,

    Este acto remete-nos para preocupações sérias com que nos debatemos em África, onde nos últimos anos, e muito particularmente neste de 2025, tivemos que fazer face a surtos epidemiológicos de cólera que tiveram uma incidência dramática na vida socioeconómica das populações africanas, muito especialmente em regiões e países em que esta epidemia se manifestou com maior abrangência.

    Há naturalmente um grande esforço para se controlar a repetição cíclica destes surtos, o que implica o recurso a medidas de saneamento básico, de purificação da água e de melhoria das condições gerais de higiene das populações.

    Temos consciência da necessidade urgente de levarmos a cabo as acções que referi e outras, sublinhando aqui a consciencialização das nossas populações sobre o modo como deve lidar com o ambiente que os rodeia, mas, em muitos casos, a realização de tais propósitos fica muito aquém dos objectivos delineados, por condicionalismos de ordem financeira e dos que se prendem com a insuficiência de pessoal tecnicamente capacitado para dar respostas rápidas e eficientes à situação.

    Mesmo assim, não estamos única e passivamente à espera de que nos acudam do exterior, sendo com este espírito que os cientistas e profissionais de saúde africanos começaram a trabalhar e colocaram todo o seu empenho em desenvolver ações que nos levem, em África, a eliminar a cólera até ao ano de 2030, no âmbito de uma coordenação que se tem revelado cada vez mais eficaz, com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças África CDC.

    Quero aqui render um especial tributo aos laureados de hoje, que nos permitem fazer renascer a esperança por um futuro seguro e com mais saúde, graças ao seu sacrifício e à sua incansável dedicação à ciência, de que resulta naturalmente a proteção da espécie humana.
    Muito obrigado pela Vossa atenção!”