Os municípios da Quiçama e do Cabo Ledo, na província do Icolo e Bengo, vão beneficiar, a partir de Dezembro deste ano, de um sistema de energia fotovoltaica e internet, no âmbito de um projecto de investimento público avaliado em 1 milhão de dólares (cerca de mil milhões de kwanzas).
O projecto, que começa a ser executado já na próxima semana, fica concluído dentro de seis meses, vai beneficiar aproximadamente quatro mil famílias, incluindo as que que residem em zonas recônditas das duas localidades.
O investimento contempla a construção de uma central de energia fotovoltaica, que assegura a disponibilização e acesso a uma energia limpa, conectividade digital, através de ligações domiciliares e públicas.
Além da conversão de energia solar em electricidade, utilizando painéis solares, o projecto vai, também, garantir que as comunas mais afastadas das sedes urbanas tenham possibilidade de aceder à internet, no quadro das acções implementadas pelo Executivo e parceiros que visam promover a integração digital das comunidades.
A garantia foi dada, ontem, pelo director de Transformação Digital da Huawei Angola, Vicente Tang, durante o acto de consignação e lançamento da primeira pedra para a construção das infra-estruturas de apoio ao projecto, que terá como co-executora a empresa Builders.
De acordo com Vicente Tang, serão instaladas infra-estruturas sustentáveis de suporte ao sistema em pontos estratégicos, com capacidade de 70 a 75 KVA.
Satisfação
Os equipamentos são de alta performance e autonomia de 48 horas, com tempo de vida útil de 20 anos. De acordo com os termos do acordo, a assistência técnica está incluída, de forma a garantir a manutenção periódica e regular do equipamento.
O projecto está inserido na Estratégia Tecnológica Nacional Iluminar Angola, e traz também conectividade e infra-estruturas de suporte às comunicações. O governador do Icolo e Bengo, Auzílio Jacob, manifestou satisfação com o inicio das obras e salientou que o projecto faz parte do Plano de Desenvolvimento Sustentável da província, com vista a responder aos constrangimentos relacionados com a falta de energia eléctrica nas localidades afastadas das sedes urbanas.
Destacou o facto de o sistema fornecer energia para uso doméstico, iluminação pública, serviços escolares, assistência médica e garantir acesso à internet.
O governador manifestou, na ocasião, o desejo de ver jovens das comunidades com formação nas áreas em referência a assumir a gestão e manutenção do sistema.
“Encontramos nesta tecnologia fotovoltaica a solução adequada para que acabemos com a falta de acesso à energia eléctrica, enquanto aguardamos pela extensão da rede convencional”, disse, acrescentando que espera que o sistema promova a empregabilidade local, de forma a assegurar sustentabilidade do investimento.
Visão de longo prazo
Angola tem um elevado potencial de recurso solar, com uma radiação solar global em plano horizontal anual média compreendida entre 1.350 e 2.070 kWh/m2/ano. Dados do Ministério da Energia Águas ( MINEA) consultados pelo Jornal de Angola destacam que este é o maior recurso renovável do país e com grandes possibilidades de ser distribuído para diferentes localidades.
A tecnologia mais adequada para aproveitar o recurso solar em Angola é a produção de electricidade através de sistemas fotovoltaicos, sendo a tecnologia de mais rápida instalação (prazos inferiores a 1 ano) e menor custo de manutenção.
A utilização de baterias em conjunto com os sistemas fotovoltaicos, de acordo com o MINEA, permite substituir totalmente a geração térmica, mas é ainda uma tecnologia muito onerosa, justificando-se economicamente apenas para soluções de pequena dimensão descentralizadas e onde o custo de transporte do diesel é muito elevado.
Nos restantes casos, conforme se pode ler nos documentos do ministério de tutela, os sistemas fotovoltaicos sem baterias permitem reduzir a utilização de gasóleo com rentabilidade económica, funcionando de forma complementar aos geradores.
Custos dos sistemas regionais
Os projectos de média e grande escala no sistema Leste e em sistemas isolados sem baterias apresentam em Angola custos nivelados inferiores a $0,2/kWh, constituindo alternativas económicas para substituição de gasóleo. Já no sistema Centro e Sul, por sua vez, é possível, inclusive, atingir custos inferiores a $0,15/kWh e, se durante os anos iniciais os projectos forem remunerados ao custo do gasóleo que evitam, a quantia nivelada desce para valores inferiores a $0,1/kWh após o 3.º ano. Prevê-se adicionalmente que os custos da tecnologia continuem a cair.
Com base nestes resultados, a estratégia estabeleceu uma meta de instalar 100 MW de projectos solares até 2025, no quadro da visão de longo prazo estabelecido pelo Governo angolano.
O estudo realizado de planeamento da electrificação rural (apresentado na primeira parte desta estratégia) permitiu identificar potencial para integrar 22 MW de projectos solares fotovoltaicos nos esforços de electrificação rural: 10 MW nas aldeias solares, 10 MW de forma complementar ao gasóleo nas sedes municipais electrificadas por sistemas isolados e 2 MW no projecto 100 por cento solar de Rivungo, província do Cuando.
Zonas preparadas
A administradora municipal da Quiçama, Níria Marques, sublinhou que o sistema terá como prioridades o abastecimento às localidades de Mumbondo, Demba Chio e Quixingi.
Níria Marques disse que são comunidades, actualmente, à margem do desenvolvimento por não disporem de um conjunto de serviços públicos, entre os quais sistemas de abastecimento de energia eléctrica e água potável.
A administradora do município de Cabo Ledo, Clementina Palma, destacou o impacto social da iniciativa nas comunidades, tendo referido os ganhos para o sector da Educação e Turismo.
“É uma transformação profunda. Os alunos deixaram a comunidade por falta de energia eléctrica. Agora poderão estudar à noite, e as mães que vão à lavra terão oportunidade de regressar à escola”, disse, para acrescentar que o projecto vai beneficiar mais de dois mil habitantes nas comunidades do Mucolo, Gonjilo 4 e Calamba.