• Ex-piloto do avião de Agostinho Neto condecorado pelos feitos e dedicação


    O antigo piloto angolano Guilherme dos Santos, que integrou a primeira tripulação do avião Antonov-26 responsável pela transportação do Presidente António Agostinho Neto na viagem histórica a Kinshasa, em 1978, foi uma das figuras de destaque do segundo e último dia da 6.ª Cerimónia de Outorga da Medalha Comemorativa dos 50 anos da Independência Nacional, orientada, terça-feira, pelo Presidente João Lourenço.

    Quis o destino que, na sessão de condecoração que homenageou o Herói Nacional e Fundador da Nação, António Agostinho Neto, e os Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, o país distinguisse uma das personalidades que conviveu com o primeiro Presidente da então República Popular de Angola.

    Em declarações ao Jornal de Angola, Guilherme dos Santos não conseguiu esconder a emoção, após receber das mãos do Presidente João Lourenço a medalha que simboliza o reconhecimento pelo valioso contributo ao desenvolvimento da aviação militar angolana.

    “É um estímulo que eu esperava há muito. Veio um bocado tarde, mas sempre valeu a pena. Lembro que eu fiz parte da tripulação que levou Agostinho Neto a Kinshasa, uma história que ficou para sempre na memória”, contou visivelmente emocionado.

    Acompanhado da filha, Yara Catila, o antigo piloto disse que fez parte de missões presidenciais e diplomáticas, incluindo, também, o transporte de Manuel Pinto da Costa, então Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe, para a República Federal da Nigéria. Hoje, com 70 anos, Guilherme dos Santos recorda como fotos, guardadas na memória ,os tempos em que, mais jovem, pilotava, com responsabilidade e espírito de missão, aeronaves com missões presidenciais, com realce para uma história notável na área da aviação militar.

    O antigo piloto iniciou a carreira em 1974, na Base Aérea da OTA, em Portugal, especializou-se em aeronáutica e optou por servir Angola, integrando as FAPLA e, logo depois, a recém-criada Força Aérea Popular de Angola/ Defesa Anti-Aérea (FAPA/DAA).

    Observou, ainda, que actuou em operações de transferência de tropas em cenários de combate em regiões como o Cuíto Cuanavale, no Kuando Kubango, o histórico KK.

    Entre outras acções e realizações, Guilherme dos Santos participou, também, numa formação intensiva, na então, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e foi co-fundador da primeira escola de instrução de tripulantes angolanos, tendo ajudado, ainda, a formar dezenas de técnicos e pilotos, garantindo a continuidade da aviação militar.

    O mais velho exerceu, ainda, funções de chefe-adjunto dos Serviços de Regimento Aéreo de Transportes Mistos, e participou no Plano Ferro, assegurando o abastecimento às tropas ao longo do Caminho-de-Ferro de Benguela. Um verdadeiro herói que deixou escrito com letras de ouro a aviação angolana.

    Episcopado angolano
    Como aconteceu nas anteriores condecorações, ontem também mereceram homenagem altas figuras do episcopado angolano, como Dom Estanislau Chindecasse, bispo da Diocese do Dundo e presidente da Caritas de Angola, o bispo da Diocese de Benguela, Dom António Francisco Jaca, e o arcebispo da Arquidiocese de Huambo, Dom Zeferino Zeca Martins.

    Estas altas personalidades da Igreja Católica auguraram, em declarações aos jornalistas, que os próximos 50 anos sejam de mais desenvolvimento, empenho, cidadania e mais fraternidade para o bem-estar do povo angolano.

    Para Dom Estanislau Chindecasse, a homenagem foi uma surpresa, por acreditar que o seu trabalho, até então, foi sempre no sentido da gratuidade, admitindo estar muito satisfeito com a condecoração.

    “Nós fomos educados para trabalhar sempre e mais. Posso dizer que é um incentivo, efectivamente, de continuarmos a trabalhar no que sabemos, que é pregar a Boa Nova do Evangelho, que tem no seu núcleo justamente a paz, a justiça, o desenvolvimento e o progresso”, referiu.

    Por sua vez, o bispo da Diocese de Benguela, Dom António Francisco Jaca, confessou que receber a medalha foi um momento de felicidade, olhando para o seu percurso de vida, dedicando a homenagem a todos aqueles que ao longo do seu ministério sacerdotal e episcopal têm contribuído para o desenvolvimento do país.

    “É uma homenagem que eu, com muito prazer, aceitei e dedico a todos os meus sacerdotes, catequistas e religiosos, meus colaboradores, porque sem eles não fazemos muito”, frisou, augurando que os próximos 50 anos sejam momentos de maior desenvolvimento do país, de maior fraternidade, empenho e cidadania para o bem-estar de todos.

    “Esta distinção tem a ver com paz e desenvolvimento. Eu espero que este seja o caminho que Angola deve trilhar”, ressaltou.

    Dom Zeferino Zeca Martins, arcebispo da Arquidiocese do Huambo, outra figura do episcopado angolano destacada, ontem, na 6.ª Cerimónia de Condecoração, disse que recebeu a distinção com muita alegria, por considerar que todos os angolanos fazem parte da promoção, sobretudo espiritual e social.

    “Nós colaboramos tanto a nível da Igreja como da sociedade. Então, por isso, é uma grande alegria ver esse reconhecimento e, também, um incentivo para continuarmos a procurar o bem-estar das nossas pessoas”, considerou.

    Mais homenagens
    O cartoonista Horácio Dá Mesquita, o homem que tem as suas impressões na figura de Neto da moeda angolana, o Kwanza, a actriz Lesliana Pereira, que soube representar como ninguém no cinema a Rainha Njinga Mbande, o realizador Henrique Narciso “Dito”, o conhecido casal de actores “Sidónio e Lembinha”, bem como o escritor John Bella não passaram despercebidos na cerimónia de condecoração, ao receberem as respectivas medalhas e certificado de honra, pela sua contribuição para a Paz e Desenvolvimento do país nestes 50 anos que Angola leva como dono soberano do seu próprio destino.

    Na música, estiveram entre os distinguidos Laudina Pedro “Fofandó”, Rey Webba, a voz da “Kamanga”, Jolie Makanda, Zé do Pau e José Manuel “Zé Keno”, estes dois últimos a título póstumo.

    A Liga Angolana de Amizade e Solidariedade com os Povos (LAASP) foi, também, distinguida. E entre as entidades do Executivo, estiveram o jovem governador do Cuanza-Norte, João Diogo Gaspar, e a governadora da Lunda-Norte, Filomena Miza Aires.