Seiscentos e 20 mil hectares de terras aráveis foram cultivados, na presente campanha, nas zonas agrícolas da província da Huíla, por dezenas de agricultores, a maioria associados em cooperativas que contam com o apoio técnico agrário e em equipamentos mecanizados, informou, segunda-feira, no Lubango, o director do gabinete da Agricultura, Pecuária e Pescas da Huíla.
Pedro Muanda, que avançou os dados ao Jornal de Angola, afirmou que a actual época produtiva envolve acima de 312 mil famílias que contam com o apoio de diversos equipamentos mecanizados e alfaias agrícolas.
Segundo o responsável do sector, o envolvimento na produção de várias associações de camponeses capacitadas com várias técnicas de cultivo, uso de vários fertilizantes, combate às pragas, fez a lavoura passar dos 600 mil hectares previstos antes do início da campanha em referência.
O director do gabinete da Agricultura, Pecuária e Pescas referiu que, à semelhança das épocas produtivas transactas, a actual conta com o envolvimento de dezenas de fazendas produtivas, algumas das quais se estreiam na produção de grãos, nomeadamente milho, massambala, massango e feijão.
O gestor frisou que a distribuição de insumos, nomeadamente 3 500 toneladas de fertilizantes e 1 300 de sementes diversas, entre outros apoios técnicos, estimularam dezenas de famílias a envolverem-se na campanha em referência, incluindo o aumento da procura de vários tipos de grãos.
O director do gabinete da Agricultura, Pecuária e Pescas da Huíla valorizou a utilização da tracção animal por dezenas de famílias que, na ausência de meios mecanizados, tem auxiliado e contribuído para o alargamento dos espaços de cultivo dos camponeses das zonas mais recônditas.
Descreveu que apenas 15 por cento das terras aráveis têm sido mecanizadas, enquanto a restante depende de tracção animal, onde os técnicos e produtores locais se empenham na aplicação de calcário para melhorar a qualidade do solo, necessária para melhorar e aumentar a produção.
O actual espaço disponível para a produção agrícola, em vários pontos da província, ascende aos 3 000 000 de hectares, um factor para atrair investidores de outros pontos do país e do mundo, com realce a uma empresa chinesa que lançou, pela primeira vez, o cultivo de arroz em escala industrial no perímetro irrigado da Matala.
Convidou, por isso, os produtores de vários pontos do país e não só a apostar nas zonas de sequeiro e de irrigação, por haver espaço suficiente para projectos agrícolas e industriais. “A exploração do rio Cunene e outros permite aos agricultores a produzir de forma ininterrupta, daí o valor para no sector produtivo”.
Casal de “enxadas nas mãos”
Joaquim Kangombe e Antónia Noloty, de 39 e 34 anos idade, há décadas que madrugam para a preparação da terra aproveitável para a lavoura de milho, feijão e massango, assim como hortaliças, cujo espaço de quatro hectares, está próximo do rio Sendy, localizado nos arredores da comuna de Chicungo, município do Quipungo.
Com o auxílio de uma junta de bois, o agricultor Kangombe açoita os animais para serem mais rápidos em puxar a charrua que revira a terra avermelhada, agora mais leve face a regularidade das quedas pluviométricas, na localidade que dista a 120 quilómetros a Leste da cidade do Lubango.
A esposa, com uma enxada, vai emendando as falhas da charrua ao longo do trajecto em que a terra está a ser revirada. Exprimem-se, simplesmente, na língua nativa Nhyanekha Nkhumby. Os dois receberam a reportagem do Jornal de Angola no seu espaço.
Após a aproximação dos repórteres, a saudação da praxe na língua nativa: Okameee (bom diaaaa), tchetuuu (bom diaaaa). Daí o início do diálogo e a descrição do trabalho. “Já cultivámos o milho que começou a dar massarocas até secarem e, agora, estamos a plantar tomate, couve, feijão e batata rena”, disse Joaquim Kangombe.
Mensagem original
Explicou que a preferência pela lavoura tem que ver com os produtos mais procurados nos mercados, notadamente o milho, massambala, massango, feijão, tomate, cebola, batata rena e doce. “O milho e feijão já não dão muito trabalho para transportar nos mercados e comercializar, porque os clientes vêm até aqui na nossa sanzala”, disseram à reportagem.
“Estamos empenhados em aumentar os espaços de cultivo para atrair mais clientes interessados, principalmente nas culturas de milho e feijão”, afirmaram, tendo reconhecido as facilidades proporcionadas pela empresa Carrinho que optou por ir ao encontro dos produtores para a compra de cereais, inclusive pagar, antecipadamente, em alguns casos.
Urge de facto reconhecer que a empresa em referência há muito que optou por fazer reservas dos cereais nas zonas de cultivo, nos municípios de Quipungo, Chicomba, Caconda e Caluquembe, facto que está a incentivar às famílias de vários pontos a alargarem os espaços produtivos.
O Jornal de Angola apurou que aposta pela lavoura, além dos antigos, está agora a envolver os novos produtores dos actuais 23 municípios da província da Huíla, onde já é visível na maioria das zonas de lavoura o verde das plantações em vastos espaços já usados, assim como novos em preparação.
A entrega de sementes melhoradas e instrumentos de trabalho diversos com realce para os tractores em diversas associações de camponeses já abrangeu acima de 200 mil camponeses, a maioria associados em cooperativas agrícolas, uma razão que tem impulsionado a actividade agrícola há sensivelmente seis anos.
Segundo um relatório da actividade produtiva nestas paragens, a distribuição de sementes e instrumentos de trabalho, além de permitir o envolvimento a cada ano agrícola de mais famílias na produção, tem permitido o aumento considerável das colheitas, assim como melhorar a qualidade dos produtos do campo.
Redução da deterioração das leguminosas
Dezenas de leguminosas e tubérculos, há sensivelmente seis anos, deixaram de deteriorar, devido à distribuição de mais de 15 camiões, destinados à transportação de mercadorias diversas, com destaque a partir dos campo para os principais mercados.
António Alexandre está entre os jovens empreendedores que beneficiou de um dos 31 camiões distribuídos no âmbito da materialização do Programa Integrado do Comércio Rural (PICR), cujo propósito foi de melhorar o escoamento de produtos do campo para os centros comerciais de referência.
Segundo ele, tem transportado vários produtos cultivados nos municípios do Quipungo, Matala e Cacula para os mercados do Km 42, situado nas imediações da comuna do Toco, assim como para o maior mercado da região Sul, o Mutundo, onde diariamente, cruzam inclusive além de nacionais, comerciantes eritreus, vietnamitas, namibianos e outros.
Disse, ainda, que transporta mercadorias desde meados de Maio de 2023, e que, além de produtos que cultiva no seu espaço situado nos arredores de Quipungo, transporta o de outros produtores ou comerciantes da região Sul, adquiridos em diversas zonas de cultivo, com destaque da Jamba, Cuvango, Chicomba e Matala para os mercados.
“Estou empenhado em concluir o pagamento do crédito do camião por um período de quatro anos, cuja mensalidade ronda os 200 mil Kwanzas, até totalizar os nove milhões e 600 mil Kwanzas”, explicou, tendo sublinhado que se sente, agora, um homem mais animado devido ao aumento considerável da produção e aumento da procura de transportes de cargas. António Alexandre enalteceu a iniciativa do Executivo em distribuir carrinhas para o transporte de produtos do campo por estar a facilitar a actividade dos produtores e “deixarem de se preocupar com o escoamento dos alimentos do campo e evitar a deterioração de quantidades consideráveis de legumes, tubérculos e outros”.
Fonte: Jornal de Angola.