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Política
02 Dezembro de 2024 | 08h12

Novos ventos na cooperação estratégica EUA-África

A visita a Angola do Presidente Joe Biden, que se inicia esta segunda-feira, tem o duplo alcance de aprofundar os laços de cooperação bilateral entre os dois países e confirmar a contínua aposta na parceria com o continente africano.

Por Francisca Augusto, jornalista da ANGOP 

Esta ideia vem sustentada na última declaração da secretária de Imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, segundo a qual a visita "sublinha o compromisso contínuo dos Estados Unidos com os parceiros africanos e demonstra a colaboração para resolver desafios comuns”.

Recentemente, o banco americano EXIM autorizou 1,6 mil milhões de dólares americanos em transacções de apoio às exportações dos EUA para África, incluindo mais de 1,2 mil milhões de dólares de apoio à parceria.

Estas autorizações incluíram o apoio às exportações dos EUA para projectos solares e infra-estruturas de pontes em Angola, e aeronaves comerciais para a Etiópia.

Ainda no quadro dessas autorizações, a exposição do EXIM à África Subsariana atingiu um máximo histórico de aproximadamente oito mil milhões de dólares.

Num plano mais abrangente, a cooperação entre os Estados Unidos e África conheceu, nos últimos três anos, avanços significativos, com a identificação de áreas prioritárias de investimento, que visam industrializar o "continente berço".

Desde 2022, a Administração americana tem vindo a anunciar novos pacotes de financiamento para África, investindo forte no segmento das energias renováveis, dos transportes e das telecomunicações.

Na altura, África manifestou o desejo de partilhar cinco prioridades da sua agenda com os Estados Unidos, com particular destaque para o combate ao terrorismo.

A prioridade da parceria tem ainda a ver com a manutenção da paz, segurança e luta contra o terrorismo de maneira global.

África deseja que o seu combate contra o terrorismo seja parte integrante da luta global da ONU, por este flagelo constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais.

Os Estados africanos esperavam por um forte envolvimento de Washington nessa questão vital, para que o Conselho de Segurança (CS) da ONU coloque o tema da luta contra o terrorismo em África no mesmo quadro de mecanismos de segurança colectiva da Carta das Nações Unidas.

A esse respeito, as lideranças africanas saudaram a decisão do Presidente Joe Biden de apoiar a participação de África como membro permanente do grupo do G20 e do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O segundo eixo da parceria estratégica entre EUA e África tem a ver com as alterações climáticas, as crises sanitárias e o direito de saque especial ou suspensão das dívidas contraídas pelos Estados africanos aos credores internacionais.

Perdão da dívida e infra-estruturas

Nesse sentido, as lideranças africanas solicitaram uma acção solidária internacional em relação à matéria do perdão da dívida, por forma a assegurar-se os esforços de resiliência e de relançamento das economias africanas.

À época, o Presidente dos EUA anunciou que o seu país lidera um esforço global para levar a cabo acordos equitativos, para assegurar o alívio da dívida.

"Estamos a solicitar ao Congresso que dê um crédito de 21 mil milhões de dólares ao Fundo Monetário Internacional (FMI), para dar o acesso necessário ao financiamento aos países de baixo e médio rendimentos", disse Biden, na ocasião.

No quadro da parceria estratégica com os EUA, África solicitou, também, um maior envolvimento norte-americano na construção de infra-estruturas, como estradas, caminhos-de-ferro, centrais eléctricas e infra-estruturas digitais.

O continente precisa de pelo menos 96 mil milhões de dólares, até 2030, para financiar as suas necessidades, pelo que exige uma transição equitativa em termos competitivos, para ter acesso universal à eletricidade.

A falta desse produto afecta mais de 600 milhões de africanos.

Outro pilar da nova cooperação é ganhar a batalha pela soberania alimentar, pelo que os líderes do continente solicitaram dos EUA a adopção de medidas urgentes para facilitar o acesso aos fertilizantes e outros produtos agrícolas.

África pediu igualmente o levantamento das sanções financeiras e de viagens à elite política, militar e económica do Zimbabwe, bem como a empresas ligadas a este Estado, impostas pelos EUA, há várias décadas.

Mais investimentos

A administração norte-americana comprometeu-se a expandir oportunidades económicas amplas em Africa, contando, em particular, com a participação directa do sector privado americano.

O Presidente Joe Biden anunciou mais de 15 mil milhões de dólares em novos negócios, além de assegurar aos parceiros africanos um trabalho conjunto com o Congresso do seu país, no sentido de investir mais de 350 milhões de dólares numa nova iniciativa de transformação digital com África.

A necessidade de se pôr fim àquilo que considera "acordos comerciais opacos, coercivos, projectos ambientalmente destrutivos, mal construídos, que importam ou abusam de trabalhadores, fomentam a corrupção e sobrecarregam os países com dívidas incontroláveis" foi outro aspecto abordado pelo Governo dos EUA e lideranças africanas.

A parte americana comprometeu-se a oferecer "uma abordagem diferente", com investimentos transparentes, de alta qualidade e sustentáveis para o planeta", capazes de potenciar as comunidades locais e respeitar os direitos dos povos nativos.

Joe Biden prometeu aos líderes africanos investimentos em massa no continente, em áreas prioritárias, sem, contudo, deixar de alertar para a necessidade do forte comprometimento das lideranças africanas com as questões democráticas, transparência e boa governação.

O arranque de uma das maiores zonas de livre comércio do mundo, a constituir-se em África, que representa um mercado de 1,3 mil milhões de pessoas, é para Biden um "mercado abrangente”, que totaliza 3,4 mil milhões de dólares.

"Com o novo memorando, faremos as coisas de forma correcta, garantindo protecção para os trabalhadores, tanto em África, quanto nos Estados Unidos", sublinhou.

Com efeito, o Presidente norte-americano identificou cinco áreas prioritárias que deverão marcar a nova era da cooperação estratégica, tais como apoio ao desenvolvimento de infra-estruturas e transportes, inovação e empreendedorismo, melhoria dos cuidados de saúde, protecção contra ameaças informáticas e revolução digital.

Noutra nota de realce, durante o último ano, a Administração norte-americana acelerou os intercâmbios de alto nível, direccionando um ritmo sem precedentes de visitas ao continente, sendo que 17 gabinetes e líderes de departamentos e agências governamentais dos EUA visitaram 26 países em África.

Em 2023, os Estados Unidos apoiaram e ajudaram a celebrar 547 novos acordos num valor total estimado de 14,2 mil milhões de dólares em novo comércio e investimento bilateral entre os americanos e os países africanos.

Este investimento representa um aumento de quase 60% do número e do valor dos negócios fechados, em 2022.


Fonte: Angop.



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