A questão dos conflitos geracionais e de gravidez precoce, no Leste do país, estiveram no centro da audiência concedida, ontem, na Cidade Alta, pela Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, à representante do povo Luvale-Luena, soberana Nhakatolo Tchilombo.

À saída do encontro, a soberana da província do Moxico disse que a reunião com Esperança da Costa foi muito importante, em virtude de ter permitido abordar, de forma aberta, sobre vários assuntos que preocupam a região, sobretudo os relativos à cultura dos habitantes locais.

"O problema tem a ver com os conflitos geracionais e estamos todos muito preocupados com a preservação da cultura, porque, hoje, se observa que os jovens, com idades muito precoces, já têm bebés. Esta é uma das situações que trouxemos à conversa com Sua Excelência a Vice-Presidente”, revelou a Rainha Nhakatolo Tchilombo.

"Para esta situação ser ultrapassada, há a necessidade de construir escolas, para ensinar a juventude sobre a importância de entenderem melhor a preservação da nossa cultura”, acrescentou a soberana, assegurando que a Vice-Presidente da República acolheu com muita atenção todas as preocupações e garantiu que tudo será implementado.

A Rainha Nhakatolo Tchilombo manifestou-se preocupada, por outro lado, com a vandalização de bens públicos, tendo apelado aos cidadãos que procedem de tal forma a evitarem fazê-lo, porque "os bens são para todos” e não deviam ser destruídos.

"Quando alguém entende que deve vandalizar um bem público é uma preocupação grave, por isso apelamos às autoridades para que, quando acontece este tipo de situações, as pessoas devem ser responsabilizadas”, referiu.

Relativamente ao futuro governador da província do Moxico Leste, a soberana confessou que espera ser indicado "alguém que vá trabalhar com o povo e para o povo e nunca para os interesses pessoais”.

Assimetrias regionais

Para o ministro da Cultura, Filipe Zau, o encontro da Vice-Presidente da República com a Rainha Nhakatolo Tchilombo foi "muito interessante”, em virtude de tratar-se de uma figura que vai ajudar, também, a resolver o problema da gravidez precoce, com o qual os ministérios da Educação e da Cultura têm, necessariamente, algumas preocupações.

"Não faz sentido que crianças andem com outras crianças ao colo. Não há desenvolvimento assim e, como se sabe, o Leste já teve o problema das assimetrias de desenvolvimento, e esse desenvolvimento era praticamente no litoral, no tempo colonial, e nas partes mais afastadas sempre teve este problema”, disse o ministro, enfatizando a necessidade de se pensar em estratégias, políticas e projectos que possam acabar com os casos de gravidez precoce.

Filipe Zau admitiu haver, também, muitas vezes, responsabilidades que se devem atribuir aos mais velhos, que optam por uma mulher muito mais nova, não ajudando com isso no desenvolvimento humano e, sobretudo, das raparigas.

"Essas foram algumas das questões que a senhora Vice-Presidente da República deixou como preocupação, porque é preciso que estas meninas frequentem uma escola e possam estudar, porque grande parte delas já leva uma criança ao colo, deixam de estudar cedo e, também, as jovens que engravidam não têm vida própria”, sublinhou, realçando que tal situação não ajuda a resolver o problema da pobreza e das carências.

Livro sobre os Mangais de Angola apresentado a Esperança da Costa

A ambientalista Fernanda Renée apresentou, ontem, durante a audiência com a Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, uma obra literária de sua autoria, que retrata sobre os Mangais em Angola, a biodiversidade angolana, as ameaças e as acções que o país tem empreendido para a preservação e conservação dos ecossistemas.

O livro, de acordo com a ambientalista, foi lançado muito recentemente, em Nova Iorque, Estados Unidos da América (EUA), durante a Assembleia Geral das Nações Unidas e a Cimeira do Futuro.

"É uma obra que retrata os Mangais de Angola, de Cabinda e Benguela, e sobre a sua biodiversidade e ameaças que estes ecossistemas enfrentam”, explicou Fernanda Renée, para referir que os mangais são de capital importância para a biodiversidade marinha.

"Os mangais têm grandes funções ao longo da orla costeira, protegem contra acções erosivas das ondas e servem de subsistência de comunidades de pescadores e as suas florestas sequestram mais dióxido de carbono do que qualquer outra, tornando estes ecossistemas cruciais no combate às alterações climáticas”, sustentou.

Apesar da importância dos mangais, acrescentou a ambientalista, os ecossistemas continuam a ser destruídos através da poluição, ocupação anárquica de terrenos, caça furtiva e da pesca predatória, esclarecendo que o livro visa reforçar a educação ambiental para inspirar a sua protecção e conservação.

"É um livro pedagógico, que visa aumentar a consciência pública sobre a importância dos ecossistemas”, disse.

Fonte: Jornal de Angola.